"Os direitos humanos essenciais são violados, os apoios do Estado são uma fraude, a reinserção social uma ficção. Ser pobre é viver num mundo à parte, de onde nunca se consegue sair"
Aqueles que andam por aí a falar contra as pessoas que
recebem o RSI e outros subsídios que, sendo já miseráveis, este governo está a
cortar ainda mais e que tentam culpar os mais desfavorecidos pela miséria a que
chegámos, deviam ler esta reportagem
com atenção (entretanto, o Francisco José Martinho dos Santos morreu
no hospital. Tinha 30 anos. Vivia em condições miseráveis com a mulher, de
21, e o filho, de quatro).
Aqueles que, ao apoiar as medidas deste governo, acham justo que os mais pobres
é que devem pagar a crise causada pelos mais ricos, devem lembrar-se que
subiram na vida com relativa facilidade, mas, se continuarmos com estas
políticas de fazer a vontade aos "mercados", a queda que terão vai
ser ainda mais fácil e rápida. E, uma vez em baixo, será muito mais complicado
voltar a subir. E, nessa altura, quando precisarem do estado social, ele já não
existirá, porque eles próprios ajudaram à sua destruição.
São pessoas que, não bastando o facto de não participarem em manifestações,
greves e outras formas de luta, ainda criticam, pela negativa, aqueles que o
fazem. Nem sequer lhes passa pela cabeça que é também por eles que lutam. Porque,
os que lutam, lutam por todos e os que não lutam, só lutam por eles. Dizem que
não têm tempo, que não têm jeito, que não vale a pena (boas desculpas para não
dar a cara). Se se lembrassem do que se tem passado, por todo o mundo, através
da história, seria fácil chegarem à conclusão de que foi devido a estas lutas
que eles próprios adquiriram alguns direitos, que se acabou com a escravatura,
que as mulheres adquiriram o direito ao voto, que os negros conquistaram o
direito de se sentar em qualquer banco do autocarro, que muitas ditaduras foram
derrubadas, incluindo a portuguesa, que nos atormentou durante mais de 4
décadas. Foi devido a essas lutas que conquistámos a democracia e muitos
direitos, que, agora, estão a ser postos em causa, sempre com a desculpa de que
os “mercados” assim o exigem. Depois de alguns anos a perder direitos, a sofrer
baixas de ordenados e de pensões, aproxima-se a entrega do orçamento de estado
para o próximo ano. E, pelo que já se sabe, aproxima-se mais perda de direitos,
mais cortes nos ordenados e nas pensões, enfim… mais miséria. E, levadas pela
conversa do governo, que só conseguiu “chegar ao pote”, devido às promessas,
nunca cumpridas, que foram feitas durante a campanha eleitoral, essas mesmas
pessoas que, constantemente, criticam aqueles que lutam por um país e por um
mundo melhor, afirmam que não há alternativa. Desgraçados de nós se, realmente,
esta é a única alternativa. Falam de barriga cheia, pois nota-se que, quando se
sentem atingidas, até são capazes de dizer umas coisitas contra o governo (nada
em demasia, para não dar muito nas vistas). São pessoas que convivem bem com
qualquer sistema que lhes ponham à frente. Convém-lhes, porque nunca sabem
quando vão precisar dele. Não lhes interessa o vizinho que se vê e deseja para
pôr comida na mesa dos filhos, desde que o quintal deles esteja sempre bem
tratado. As ideias que defendem são sempre as que vão de encontro à sua própria
conveniência. O bem colectivo não lhes interessa nada. Tudo gira à volta do seu
próprio umbigo. Mas são os primeiros a aproveitar-se dos direitos que outros
conquistaram, sem sequer o reconhecerem.
São parasitas, embora o neguem. Mas nunca o conseguirão esconder.
"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me,
porque, afinal, eu não era comunista. Quando prenderam os sociais-democratas,
eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando levaram os
sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando
levaram os católicos, eu não protestei, porque, afinal, eu não era católico. Quando
levaram os ciganos, eu não protestei, porque, afinal, eu não era cigano. Quando
levaram os homossexuais, eu não protestei, porque, afinal, eu não era homossexual.
Quando levaram os negros, eu não protestei, porque, afinal, eu não era negro. Agora,
vão-me levar a mim e já não há quem proteste."
(Adaptação de um poema
de Martin Niemoller)
Muito bom!
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