O Fernando Tordo emigrou, tal como aconteceu com centenas de milhar de outros portugueses nos últimos dois ou três anos.
Como seria de esperar, a
emigração de Fernando Tordo chamou mais a atenção do que a do comum dos mortais
portugueses. Ou porque o próprio assim o quis ou porque a imprensa achou que
podia ganhar mais uns cobres com a notícia, a verdade é que o facto de o Tordo
ter ido para o Brasil foi mais mediático do que a emigração dos outros milhares
de portugueses. Já tinha acontecido o mesmo com a pianista Maria João Pires.
Tudo bem. Como gente conhecida que é, é normal que tenham mais cobertura
mediática.
O que me espanta (ou talvez não) é o facto de vir logo uma série de gente a acusá-los
de tudo e mais alguma coisa (a maior parte das vezes, sem razão nem fundamento)
e, inclusivamente, tentar provar que são pessoas ricas e que não precisam de
emigrar.
No caso do Fernando Tordo, a notícia que, ontem, foi publicada no Jornal i é o
exemplo de como, muitas vezes, a imprensa tenta manipular a opinião pública. No título do
artigo, lia-se “Empresa de Tordo recebeu
por espectáculos mais de 200 mil euros por ajuste directo” (http://www.ionline.pt/artigos/portugal/fernando-tordo-recebeu-espectaculos-mais-200-mil-euros-ajuste-directo).
Claro que, logo aqui, muita gente pára de ler e fica a pensar as piores coisas
do cantor, porque, antes de emigrar, ele dizia que tinha que o fazer porque a
sua reforma era pequena (duzentos e poucos euros, como o seu filho, João Tordo,
veio a revelar). Mas, logo no 1º parágrafo, pode ler-se que esses 200 mil euros
foram adjudicados desde 2008. Ora, 200 mil euros em 6 anos, dá pouco mais de 33
mil euros por ano, o que equivale a menos de 3 mil euros por mês. E o leitor,
mesmo assim, continua a ser levado a pensar que 3 mil euros por mês é um bom
ordenado, que não justifica a emigração e, muito menos, andar a dizer que tem
que emigrar porque tem dificuldades económicas. Só lá mais para o fim do
artigo, quando o leitor já está com o cérebro bem lavadinho e o ânimo bem
irritado (depois de já ter chamado ao Fernando Tordo todos os nomes e mais
alguns e, porventura, ter deixado de ler), é que se constata que, afinal, como
explica a mulher de Fernando Tordo, “o cantor deu emprego, nos últimos anos a
26 músicos, “fora técnicos de som e de luz””. E que “por isso, diz Eugénia
Passada, o artista recebeu apenas “cerca de 10% do valor” total das
adjudicações directas feitas à sua empresa”. Como dizia o outro, “é fazer as
contas”.
Tudo isto nos conduz a uma triste conclusão: não só o Fernando Tordo teve razão
para emigrar, como também a tinham os 26 músicos e mais não sei quantos
técnicos de som e luz a quem a empresa dele dava trabalho.
E, exactamente na altura em que acabo de escrever estas linhas, ouço, nas
notícias, que 80% dos reformados (cerca de 2 milhões) vive com 364 euros por
mês, mas 56 (banqueiros e antigos administradores de empresas públicas e
privadas) ganham mais de 16500. Um deles acumula 13 tipos de pensões diferentes
e recebe cerca de 50 mil euros por mês. (http://m.tvi24.iol.pt/economia---economia/reformados-pensoes/1539260-6377.html)
E também me veio à ideia uma entrevista que o Luís Montenegro, líder da bancada
parlamentar do PSD, deu ao JN, em que afirmou que "A vida das pessoas não
está melhor mas o país está muito melhor"! (http://www.jn.pt/live/Entrevistas/default.aspx?content_id=3697968).
Também me estão a vir à memória as palavras de Henry Kissinger, que cito de
memória: “Muita gente vai morrer quando se estabelecer a Nova Ordem Mundial,
mas será um mundo muito melhor para os que sobreviverem.”
E mais não digo, para não começar para aqui a GRITAR impropérios que poderiam
ferir algumas susceptibilidades.
Até sempre companheiros
Fernando Tordo
Fernando Tordo
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