No dia 16 de Fevereiro de 1925, nasceu, em Coimbra, o compositor e o mais virtuoso dos guitarristas portugueses Carlos Paredes, a quem chamaram “o homem dos mil dedos”.
Influenciado pela música de câmara da Renascença
e pelo fado de Coimbra, desenvolveu ao longo dos anos um estilo pessoal que, a
partir da tradição e apoiado no vigor de execução, mitificou um instrumento: a
guitarra portuguesa.
O bisavô já tocava guitarra. O avô Gonçalo também. E o pai, Artur Paredes, foi
um dos mais importantes renovadores da guitarra portuguesa em Coimbra na
primeira metade do séc. XX. Neste ambiente cresceu Carlos Paredes, que, pela
vida fora, fez da guitarra portuguesa mais um membro do seu próprio corpo, mais
um corpo da portugalidade genuína.
“A minha mãe achava que eu tinha bom ouvido e sugeriu ao meu pai que eu fosse
aprender violino. O meu pai - homem de bom gosto - disse: ‘Não vai nada. Só
valeria a pena estudar violino se ele fosse como o Heifetz.’”
O facto é que o jovem Carlos ainda estudou violino, por volta dos dez anos de
idade, mas tinha a escola da guitarra em casa e o mestre no seu próprio pai.
Esta tradição familiar com quase dois séculos levou Carlos Paredes a aprofundar
os seus estudos sobre um instrumento que, durante toda a sua vida, considerou
"menor", limitado, e ao qual procurou acrescentar inovações que o
tornassem completo, mas com pouco sucesso
Homem de extrema modéstia, recusou ser profissional da guitarra, dizendo que
gostava demasiado da música para viver à custa dela e intitulando-se um simples
“músico popular urbano”. Os críticos e especialistas dedicaram-lhe um outro
adjectivo: “genial”.
Paredes defendia que a guitarra portuguesa é um instrumento que não está
estudado, que se toca bastante ao sabor da improvisação. A propósito desta
mesma improvisação, afirma que, para ele, tocar é improvisar sempre um pouco.
"É como falar com alguém. É possível que a guitarra também fale... O
improviso é o momento em que se cria qualquer coisa".
Tentou acrescentar mais uma corda à guitarra: "Fiz tentativas nesse
sentido - comecei-as há 5 anos e, de vez em quando, ainda me entretenho com
elas. Para conseguir uma afinação idêntica à do alaúde bastaria acrescentar à
guitarra portuguesa mais uma corda grave porque é um instrumento com muitas
deficiências de baixo. Fiz uma experiência acrescentando-lhe um Mi grave.
Simplesmente, acontece que essa corda desequilibra o instrumento, que parece já
ter atingido a sua forma definitiva".
Sempre num registo de humildade, o guitarrista considera que as próprias limitações
da guitarra portuguesa o levam a compor e executar uma "música
menor", por comparação com a "música maior" que diz ser a música
clássica ou erudita. "A guitarra não é de modo nenhum essencial na música
portuguesa. Como já disse, não é, na sua origem, portuguesa. O que com ela se
interpreta de mais característico é o fado”.
"Quando eu morrer, morre a guitarra também. O meu pai dizia que, quando
morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele. Eu
desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer."
Carlos Paredes morreu em Lisboa, no dia 23 de Julho de 2004. A guitarra não foi
enterrada com ele. E ainda bem.
Verdes anos, de Carlos
Paredes
Guitarra: Carlos Paredes
Guitarra: Carlos Paredes
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