(Parece que, por estes
dias, François Hollande tem estado na berlinda. Não me refiro ao seu caso
extra-conjugal, que isso pouco ou nada me interessa. Refiro-me ao facto de,
também ele, ter dado a entender que quer meter o “socialismo na gaveta”.
Transcrevo aqui, a esse propósito, uma crónica que escrevi noutro blog, no dia
6 de Maio de 2012, o dia em que Hollande ganhou as eleições francesas.)
Acreditem que gostava de partilhar a fé que grande parte dos meus amigos parece ter de que, se François Hollande ganhar as eleições em França, muita coisa vai mudar, para melhor, na Europa, em Portugal ou na própria França. A verdade é que não partilho. Não é que deseje a sua derrota. Antes pelo contrário. Qualquer coisa é melhor que Sarkozy. Tal como, não tendo tido muita fé em Barack Obama, há três anos, acreditava que qualquer coisa era melhor que George W. Bush. Mas estas não são nem podem ser as únicas alternativas.Tudo indica que Hollande ganhará as eleições. Mas, para mim, não será mais do que uma "Primavera Marcelista" à francesa ou do que uma mudança de nome de PIDE para DGS, à europeia: em vez de termos uma Europa comandada por "Merkozy", tê-la-emos comandada por "Merkhollande". "Merk" sempre em primeiro lugar.Eu ainda sou do tempo em que os partidos socialistas europeus eram motivo de alguma esperança para os povos. Mas já lá vão muitos anos.Essa esperança começou a perder-se exactamente em Portugal. Se, no seu programa de 1973, o Partido Socialista se considerava herdeiro da tradição da “luta das classes trabalhadoras pelo socialismo", não foi preciso muito tempo até que, em 1975, em plena luta de classes rumo ao socialismo em Portugal, Mário Soares tenha afirmado que era necessário "meter o socialismo na gaveta". E a triste verdade é que meteu mesmo. Não duvido que, muitas das conquistas do estado social tivessem sido levadas a cabo com a ajuda do PS. Mas também não duvido que a gradual perda dessas conquistas, que se tem vindo a verificar nos últimos anos, tenha sido levada a cabo com a ajuda desse mesmo partido. Umas vezes implementando-a ele próprio, como aconteceu com José Sócrates, outras vezes, votando a favor ou "abstendo-se violentamente", como está a acontecer com António José Seguro.É minha convicção que, por toda a Europa, os partidos chamados socialistas, de socialista só têm o nome. Dir-me-ão que a culpa é dos "mercados", essa entidade que se tem dedicado a acabar com o estado social e à qual os partidos liberais e neo-liberais que têm governado a Europa nos últimos anos “têm” que obedecer. E o problema é que conseguem convencer os povos de que não existem alternativas. E vão ganhando eleições, alternando, ora no governo ora na oposição, sempre com o mesmo objectivo: o de subjugar os povos aos mercados, que, por sua vez, exigem cada vez mais medidas de austeridade, que os governos implementam para que possam obter mais dinheiro para que os membros e amigos do partido mantenham os lugarzinhos de grande prestígio e altas remunerações. Mas sempre à custa dos mais pobres, que, como arma, só têm o voto, cujo direito exercem, convencidos que podem mudar alguma coisa. E o que se tem visto é que nada muda. Ou antes, muda para pior. Pior para o povo que, cada vez trabalhando mais, ganhando menos e abdicando de direitos que, há anos atrás, eram inalienáveis, continua a votar, dando legitimidade aos mesmos que, depois das eleições e apesar de todas as promessas, nada fazem para melhorar as condições dos povos.Receio que seja isto que vai acontecer hoje em França. Ao que parece, as moscas vão mudar, mas a merda será a mesma. E quem leva com ela serão sempre os mesmos.
Os fantoches de Kissinger
José Afonso
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