Nos últimos dias tenho vindo a verificar que, no Facebook, aparecem algumas mensagens enaltecendo Salazar e Marcelo Caetano.
Preocupam-me estas mensagens, principalmente, quando vêm da
parte de jovens que não fazem a mínima ideia do que se passava no tempo daqueles
ditadores. E, pior que isso, nem sequer se dão ao trabalho de fazer alguma
pesquisa porque, caso o fizessem, rapidamente chegariam à conclusão que não
passavam de dois tiranos. Estes jovens nem se apercebem do que eram as torturas
da PIDE, do que era pôr uma metralhadora nas mãos de um rapaz de 20 anos e
obrigarem-no a ir para uma guerra, obrigarem-no a matar sem, muitas vezes, ele
próprio saber porquê e para quê. Não fazem ideia do que era um Tarrafal, do que
era ser jovem e ouvir conversas em casa e ser avisado pelos pais que “o que aqui se diz não é para dizer na rua”.
Não sabem o que é ter que emigrar, pela calada da noite, arriscando a prisão ou
até a morte. Mas a culpa não é destes jovens. Acima de tudo, a culpa é destes
políticos que nos têm governado, praticamente desde o 25 de Abril de 74, data
em que foi, precisamente, derrubado o sistema fascista que Salazar instaurou em
1933 e que tivemos que aguentar durante mais de 40 anos. Primeiro com Salazar
e, depois, com o seu seguidor, Marcelo Caetano. Não interessa a estes políticos
ensinar, nas escolas, o que foi o regime fascista. Não lhes interessa ensinar,
nas escolas, a razão de ser do 25 de Abril. Não! Isso não lhes interessa nada.
É que, quanto menos consciência os jovens tiverem das tiranias do fascismo,
mais fácil se torna a implementação das políticas neoliberais, também elas,
cada vez mais fascistas.
Nestes últimos três anos, os políticos que nos governam vieram agravar
substancialmente o estado das coisas. Desculpando-se com a Troika e com os “mercados”,
impõem cada vez mais austeridade ao povo, enquanto a eles, a crise lhes passa
ao lado. São eles a principal causa de haver jovens que, mal informados e tendo
pouca esperança no futuro, se dão ao desplante de enaltecer o fascismo. O país
está pior que nunca, em quase todos os aspectos. Salários a descer, trabalho
precário a aumentar, taxa de desemprego preocupante e cada vez mais pessoas a
emigrar. Quase metade dos jovens, em idade activa, não consegue arranjar
emprego. E a maioria dos que o conseguem, é emprego precário, com salário baixo
e numa profissão que não tem nada a ver com o que estudaram. E são alguns destes
jovens que não têm pudor nenhum em “recordar” Marcelo Caetano, como o salvador
da pátria. Estou em crer que estarão em minoria, mas não deixam de ser
perigosos. Inconscientemente, estão a contribuir para a destruição do seu
próprio futuro. Nem imaginam que as políticas ultraliberais que estão a ser
aplicadas são, na sua essência, as políticas que Salazar e Marcelo aplicariam
se regressassem. Mas para pior ainda. Por isso não há interesse, por parte dos
governantes, em elucidar os jovens sobre o que foi o fascismo. É que se eles
soubessem, depressa chegariam à conclusão de que, a continuarmos assim, nos
aproximamos a passos (trocadilho intencional) largos de um sistema ditatorial
como aquele que derrubámos há 40 anos. Com uma pequena diferença: os ditadores
são os “mercados” e não o Salazar ou o Caetano. Já nos tiraram quase tudo o que
conquistámos. Só falta tirarem-nos a palavra. Mas, como se tem visto,
tentativas não têm faltado.
Não se iludam. O fascismo e a ditadura nunca foram nem serão
solução para nada. Se estão insatisfeitos com o sistema que temos (e têm toda a
razão para estar), lutem contra ele, tal como eu e muitos outros lutaram contra
o fascismo. É certo que, hoje, muitos de nós estão desiludidos, porque não foi
por isto que lutámos. Portanto, a luta continua. Mas, uma coisa é certa: FASCISMO,
NUNCA MAIS! Lutem por uma democracia a sério. Não se contentem com meias
democracias e, muito menos, com ditaduras disfarçadas de democracia. Lutem por
uma sociedade justa, em que haja pão para todos, paz e liberdade a sério, educação
e saúde tanto para os mais pobres como para os mais ricos. E, se não for pedir
muito, lutem por uma sociedade em que deixe de haver pobres. E, quando digo
“lutem”, quero dizer “lutemos”. Terão toda a minha solidariedade e apoio. Mas,
acreditem, Salazar ou Caetano, não. Fascismo, nunca. Na realidade, o que vocês
querem é uma sociedade diferente, com governantes mais honestos, menos
corruptos e mais solidários com o povo que os elege. O que vocês querem é,
exactamente, o que eu queria quando era jovem: um futuro melhor. Foi por isso
que lutei. É por isso que continuo a lutar. Hoje, já não tanto por mim próprio,
mas mais pelo meu filho e pelos jovens como ele. Acima de tudo, não desistam.
Lembrem-se que, no tempo do Salazar e do Caetano, muita gente morreu para
acabar com a ditadura. E cruzar os braços é meio caminho andado para voltarmos
a ela.
O vosso futuro é incerto. Mas, quero alertar-vos para o facto de que, no tempo
do fascismo, o futuro que esperava os jovens era a guerra colonial. Milhares por
lá morreram. O vosso futuro é, talvez, o desemprego ou o trabalho precário.
Está nas vossas mãos lutarem contra isso e mudarem o rumo. Mas nunca, nunca
chamem o Salazar ou o Caetano, que esses não fazem cá falta. Já os há por aí em
demasia, disfarçados com a bandeirinha na lapela. E, hoje, comemorando,
hipocritamente, o 25 de Abril, até ostentam um cravo vermelho ao peito.
Força, juventude! Os
cotas cá estão para ajudar.
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