sexta-feira, 25 de abril de 2014

Para os jovens do meu país de Abril

Nos últimos dias tenho vindo a verificar que, no Facebook, aparecem algumas mensagens enaltecendo Salazar e Marcelo Caetano.

Preocupam-me estas mensagens, principalmente, quando vêm da parte de jovens que não fazem a mínima ideia do que se passava no tempo daqueles ditadores. E, pior que isso, nem sequer se dão ao trabalho de fazer alguma pesquisa porque, caso o fizessem, rapidamente chegariam à conclusão que não passavam de dois tiranos. Estes jovens nem se apercebem do que eram as torturas da PIDE, do que era pôr uma metralhadora nas mãos de um rapaz de 20 anos e obrigarem-no a ir para uma guerra, obrigarem-no a matar sem, muitas vezes, ele próprio saber porquê e para quê. Não fazem ideia do que era um Tarrafal, do que era ser jovem e ouvir conversas em casa e ser avisado pelos pais que “o que aqui se diz não é para dizer na rua”. Não sabem o que é ter que emigrar, pela calada da noite, arriscando a prisão ou até a morte. Mas a culpa não é destes jovens. Acima de tudo, a culpa é destes políticos que nos têm governado, praticamente desde o 25 de Abril de 74, data em que foi, precisamente, derrubado o sistema fascista que Salazar instaurou em 1933 e que tivemos que aguentar durante mais de 40 anos. Primeiro com Salazar e, depois, com o seu seguidor, Marcelo Caetano. Não interessa a estes políticos ensinar, nas escolas, o que foi o regime fascista. Não lhes interessa ensinar, nas escolas, a razão de ser do 25 de Abril. Não! Isso não lhes interessa nada. É que, quanto menos consciência os jovens tiverem das tiranias do fascismo, mais fácil se torna a implementação das políticas neoliberais, também elas, cada vez mais fascistas.
Nestes últimos três anos, os políticos que nos governam vieram agravar substancialmente o estado das coisas. Desculpando-se com a Troika e com os “mercados”, impõem cada vez mais austeridade ao povo, enquanto a eles, a crise lhes passa ao lado. São eles a principal causa de haver jovens que, mal informados e tendo pouca esperança no futuro, se dão ao desplante de enaltecer o fascismo. O país está pior que nunca, em quase todos os aspectos. Salários a descer, trabalho precário a aumentar, taxa de desemprego preocupante e cada vez mais pessoas a emigrar. Quase metade dos jovens, em idade activa, não consegue arranjar emprego. E a maioria dos que o conseguem, é emprego precário, com salário baixo e numa profissão que não tem nada a ver com o que estudaram. E são alguns destes jovens que não têm pudor nenhum em “recordar” Marcelo Caetano, como o salvador da pátria. Estou em crer que estarão em minoria, mas não deixam de ser perigosos. Inconscientemente, estão a contribuir para a destruição do seu próprio futuro. Nem imaginam que as políticas ultraliberais que estão a ser aplicadas são, na sua essência, as políticas que Salazar e Marcelo aplicariam se regressassem. Mas para pior ainda. Por isso não há interesse, por parte dos governantes, em elucidar os jovens sobre o que foi o fascismo. É que se eles soubessem, depressa chegariam à conclusão de que, a continuarmos assim, nos aproximamos a passos (trocadilho intencional) largos de um sistema ditatorial como aquele que derrubámos há 40 anos. Com uma pequena diferença: os ditadores são os “mercados” e não o Salazar ou o Caetano. Já nos tiraram quase tudo o que conquistámos. Só falta tirarem-nos a palavra. Mas, como se tem visto, tentativas não têm faltado.


Quero, agora, falar directamente para os jovens do meu país:

Não se iludam. O fascismo e a ditadura nunca foram nem serão solução para nada. Se estão insatisfeitos com o sistema que temos (e têm toda a razão para estar), lutem contra ele, tal como eu e muitos outros lutaram contra o fascismo. É certo que, hoje, muitos de nós estão desiludidos, porque não foi por isto que lutámos. Portanto, a luta continua. Mas, uma coisa é certa: FASCISMO, NUNCA MAIS! Lutem por uma democracia a sério. Não se contentem com meias democracias e, muito menos, com ditaduras disfarçadas de democracia. Lutem por uma sociedade justa, em que haja pão para todos, paz e liberdade a sério, educação e saúde tanto para os mais pobres como para os mais ricos. E, se não for pedir muito, lutem por uma sociedade em que deixe de haver pobres. E, quando digo “lutem”, quero dizer “lutemos”. Terão toda a minha solidariedade e apoio. Mas, acreditem, Salazar ou Caetano, não. Fascismo, nunca. Na realidade, o que vocês querem é uma sociedade diferente, com governantes mais honestos, menos corruptos e mais solidários com o povo que os elege. O que vocês querem é, exactamente, o que eu queria quando era jovem: um futuro melhor. Foi por isso que lutei. É por isso que continuo a lutar. Hoje, já não tanto por mim próprio, mas mais pelo meu filho e pelos jovens como ele. Acima de tudo, não desistam. Lembrem-se que, no tempo do Salazar e do Caetano, muita gente morreu para acabar com a ditadura. E cruzar os braços é meio caminho andado para voltarmos a ela.
O vosso futuro é incerto. Mas, quero alertar-vos para o facto de que, no tempo do fascismo, o futuro que esperava os jovens era a guerra colonial. Milhares por lá morreram. O vosso futuro é, talvez, o desemprego ou o trabalho precário. Está nas vossas mãos lutarem contra isso e mudarem o rumo. Mas nunca, nunca chamem o Salazar ou o Caetano, que esses não fazem cá falta. Já os há por aí em demasia, disfarçados com a bandeirinha na lapela. E, hoje, comemorando, hipocritamente, o 25 de Abril, até ostentam um cravo vermelho ao peito.
Força, juventude! Os cotas cá estão para ajudar.

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