quarta-feira, 30 de abril de 2014

Franz Lehár - Compositor que muitos consideram o “pai” da opereta

No dia 30 de Abril de 1870 nasceu, em Komárom, o compositor austro-húngaro Franz Lehár.


Era austríaco, de ascendência húngara. Essa dupla raiz cultural influenciou a principal fisionomia da sua música: as suas composições combinam a graça vienense com o folclore eslavo, havendo nas suas últimas obras uma aproximação à ópera bufa e à comédia musical.
Lehár começou a sua carreira como violinista e director de bandas militares, em Trieste, Budapeste e Viena. Criou a opereta e é um dos expoentes máximos da música festiva austríaca do século XX. As suas composições combinam a graça vienense com o folclore eslavo, mas há nas suas últimas obras uma aproximação à ópera-bufa e à comédia musical. Compôs sonatas, poemas sinfónicos e marchas – mas ficou na História como um dos maiores compositores da Áustria, sobretudo, pelas suas operetas – cujas canções se tornaram verdadeiros clássicos. A mais célebre é, sem dúvida, “A Viúva Alegre”.
Valsa “Lippen Shweigen”, da opereta “A Viúva Alegre”, de Franz Lehár
Tenor: José Carreras
Soprano: Maria Luigia Borsi
Orquestra Filarmónica de Xangai
Maestro: David Gimenez

terça-feira, 29 de abril de 2014

Zubin Mehta – Maestro indiano

No dia 29 de Abril de 1936 nasceu, no seio de uma família aristocrática, em Bombaim, na Índia, o maestro Zubin Mehta.


O seu pai foi violinista e fundador da Orquestra Sinfónica de Bombaim. Inicialmente, Zubin queria estudar medicina, mas, aos 18 anos, foi estudar na Academia de Música de Viena, recebendo orientação do conhecido Hans Swarowsky. Em 1958, Mehta estreou-se como maestro em Viena, vencendo, no mesmo ano, a Competição Internacional de Direcção de Orquestra em Liverpool, Inglaterra, o que lhe valeu o cargo de maestro assistente da Orquestra Filarmónica Real.
Em 1961, Zubin Mehta ocupou o cargo de director artístico da Orquestra Sinfónica de Montreal, no qual permaneceu até 1967. Dirigiu também a Orquestra Filarmónica de Los Angeles no período de 1962 a 1978, e a Filarmónica de Nova Iorque de 1978 a 1991. Em 1969, a Orquestra Filarmónica de Israel nomeou-o para o cargo de conselheiro musical. Oito anos depois, Mehta assumiu a direcção da filarmónica, cargo que se tornaria vitalício em 1981.
Desde 1998, Zubin Mehta é também o director artístico da Ópera Estatal da Bavária, sediada em Munique. Em 1990, Zubin dirigiu a Orquestra do Maggio Musicale Fiorentino e a Orquestra do Teatro da Ópera de Roma no primeiro concerto dos Três Tenores, na cidade de Roma, apresentando-se com eles novamente em 1994 no Dodger Stadium, em Los Angeles. Em 1984, o maestro fez uma digressão pelo seu país de origem, a Índia, passando pela sua cidade natal, Mumbai (antiga Bombaim), com a Filarmónica de Nova Iorque, e dez anos depois com a Filarmónica de Israel, juntamente com os violinistas Itzhak Perlman e Gil Shaham.
Abertura da ópera “O Morcego”, de Johann Strauss II
Orquestra Filarmónica de Munique
Maestro: Zubin Mehta

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Jeffrey Tate - Um médico que abandonou a carreira de medicina para se tornar maestro

No dia 28 de Abril de 1943 nasceu, em Salisbury, na Inglaterra, o maestro Jeffrey Tate, Comandante da Ordem do Império Britânico.


Ainda jovem, a família mudou-se para Farnham, onde frequentou a escola primária. Estudou medicina no Christ’s College, em Cambridge, de 1961 a 1964, especializando-se em cirurgia ocular. Depois, exerceu medicina no Hospital de S. Tomás, em Londres.
Abandonou a carreira médica para estudar música no Centro de Ópera de Londres. Estreou-se, como maestro, no Metropolitan Opera de Nova Iorque, em 1979. Em 1985, foi nomeado maestro principal da Orquestra de Câmara Inglesa e, a partir de 2005, desempenhou o cargo de director musical do Teatro San Carlo de Nápoles.
Sob a tutela de Sir Georg Solti, Jeffrey Tate trabalhou na Royal Opera House, Covent Garden, em Londres e, em Setembro de 1986, foi nomeado maestro principal, sendo a primeira pessoa a ocupar esse cargo. De 1991 a 1995 foi maestro principal da Orquestra Filarmónica de Roterdão.
Jeffrey Tate nasceu com espinha bífida, e tem sido presidente da organização caritativa de espinha bífida do Reino Unido, desde 1989. Em Outubro de 2007, a Orquestra Sinfónica de Hamburgo anunciou que Jeffrey Tate seria o próximo maestro principal daquela orquestra, a partir da Primavera de 2008.
4º andamento da Sinfonia nº 41 “Jupiter”, de Mozart
Orquestra de Câmara Inglesa
Maestro: Jeffrey Tate

domingo, 27 de abril de 2014

Aleksander Scriabin – Compositor e pianista russo

No dia 27 de Abril de 1915 morreu o compositor e pianista russo Aleksander Scriabin. Tinha nascido em Moscovo, de uma família aristocrática, no dia 6 de Janeiro de 1872.


As suas principais influências foram Chopin e Richard Wagner. Quanto tinha apenas um ano, a sua mãe, pianista de concerto, morreu vítima de tuberculose. Scriabin é entregue aos cuidados da avó e da tia, depois de o pai partir para a Turquia. Ingressou no corpo de cadetes, mas cedo abandonou a carreira militar para se dedicar à música. Começou os estudos musicais com Nikolay Zverev, na altura mestre de Sergei Rachmaninoff e de outros talentos. Scriabin ingressa posteriormente no Conservatório de Moscovo, estudando com Anton Arensky e Sergei Taneyev, demonstrando na altura um assinalável talento como pianista.
É nesta altura que Scriabin compõe a sua primeira grande obra, a Sonata em Fá menor, num acto que definiu como «um grito a Deus e ao Destino». Foi casado com Vera Isakovich, embora tenha preferido a companhia de Tatiana Fyodorovna, com quem teve um filho que acabou por morrer aos 11 anos.
Dedicou-se a especulações filosóficas e religiosas e dessa atitude de pensamento resultou uma música inédita. Apesar de as suas obras sinfónicas (como Poema do Êxtase e Prometeu, Poema do Fogo) não terem confirmado o papel messiânico que a si próprio atribuía, trocou a influência que inicialmente recebera de Chopin pela inspiração na arte do diabólico, satânico, que já tinha movido Liszt e a última fase da sua vida foi profundamente mística.
Algum tempo antes de morrer Scriabin planeou um megaprojecto a que chamou “Misteria”, um trabalho multimédia a ser apresentado nos Himalaias que desencadearia o Armagedão, uma «grandiosa síntese religiosa de todas as artes que faria nascer um novo mundo». Como pianista, ganhou fama no Ocidente, tendo dado concertos em Paris, Bruxelas e Londres. Mas foi compositor que preferiu ser e foi como compositor que ficou na História. Deixou extensa obra, apesar da sua vida relativamente curta. Morreu com 44 anos, no dia 27 de Abril de 1915.
Poema do Êxtase, de Scriabin
Orquestra Filarmonia
Maestro: Esa-Pekka Salonen

sábado, 26 de abril de 2014

Onde é que eu estava no 25 de Abril?

No dia 25 de Abril de 1974 estava a cumprir o serviço militar no quartel de Lanceiros 2, na Calçada da Ajuda, em Lisboa, como polícia militar.

Pouco mais de um mês antes, a 16 de Março, tinha havido uma tentativa de derrubar o regime fascista, a que só o Regimento das Caldas tinha aderido. Por serem poucos, estes militares foram facilmente interceptados à entrada de Lisboa e alguns ficaram presos no RAL1, donde só sairiam no dia 25 de Abril.
Sendo eu polícia militar, fui destacado para aquele quartel, para ficar de guarda aos militares que tinham sido presos. Como já andava nas lutas antifascistas há alguns anos, aproveitei a oportunidade para tirar algum partido da situação. Como é óbvio, não foi tarefa fácil conquistar a confiança daqueles militares. Mas, cerca de duas semanas depois, com todo o cuidado que era exigido na altura (nem nos próprios colegas se podia confiar), consegui convencer alguns de que estava do lado deles. Cedo me apercebi que o General Spínola estava, de certo modo, envolvido naquela intentona. Coisa que não me agradou muito, mas nem por isso deixei de me interessar pelos acontecimentos. Spínola tinha escrito o livro “Portugal e o Futuro”, cuja publicação tinha sido autorizada por Marcelo Caetano um ou dois meses antes, o que, só por si, gerava algumas suspeitas. Na realidade, Spínola não era a favor da independência dos povos colonizados, embora defendesse o fim da guerra colonial. Era, antes, apologista de uma espécie de federação, em que as colónias continuariam a fazer parte de Portugal. De qualquer maneira, o livro, que, se bem me lembro, esgotou imediatamente, serviu para despertar muitas consciências, tanto nos meios militares como civis. Como gerou alguma polémica, era tema de discussão à mesa do antigo café Monte Carlo, onde se reunia muita gente de esquerda e que, de vez em quando, era alvo de rusgas. Acho que Marcelo Caetano, ao autorizar a publicação do livro, tinha em mente dar a ideia de que havia alguma liberdade (não estivéssemos nós na chamada Primavera Marcelista). Mas teve azar. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Mas, adiante.
Devido a várias conversas com os militares detidos no RAL1 e com os quais consegui travar alguma amizade, foi possível aperceber-me que aquilo não ficava por ali. Que, mais tarde ou mais cedo, uma outra tentativa de derrubar o governo iria ter lugar. E, com o passar dos tempos, fiquei convencido, que, à segunda volta, iria ser bem-sucedida. Era evidente que o povo já estava farto e que bastava um pequeno rastilho para provocar um grande fogo. Por esse motivo, a partir do início de Abril, passei a dormir no quartel, coisa que não fazia já há muito tempo, a não ser que estivesse de serviço. Sempre à espera que, em qualquer altura, alguma coisa acontecesse.
E aconteceu. Por volta das 3 da manhã do dia 25 de Abril, fui acordado bruscamente por um colega (ou “camarada”, como era hábito chamar-se). Note-se que este colega era também camarada da luta antifascista.
- Acorda, Filipe, há um golpe de estado!
- E quem é que está à frente disso? – perguntei, já adivinhando a resposta.
- Consta que é o Spínola.
Como estava cheio de sono, pois tinha adormecido cerca de duas horas antes, respondi, com tom irónico:
- Então, deixa-me dormir, porra.

A verdade é que, quase ao mesmo tempo que dizia isto, levantei-me e comecei a indagar sobre o que tinha acontecido. Havia poucos pormenores. Na rádio já se ouviam indícios de que alguma coisa estava a acontecer e começavam a ser transmitidos comunicados do MFA. Mas os pormenores eram poucos, embora já se ouvissem muitas canções do Zeca Afonso, Letria, Adriano, José Mário Branco, etc. Seja como for, vivi aquele dia intensamente e com alguma esperança de que as coisas iriam mudar.

O comandante de Lanceiros 2 não se queria render. A porta de armas continuava fechada. Cá fora, na Calçada da Ajuda, uma multidão exigia a nossa rendição. Foi-nos transmitido pela população que, nas ruas de Lisboa, reinava o caos, principalmente porque o povo já não respeitava a polícia civil e havia pouca polícia militar na rua. Por isso, era imprescindível que saíssemos do quartel o mais depressa possível. Passámos toda a manhã no quartel, com as portas fechadas. Centenas de homens frustrados, como prisioneiros, na parada, sem saber o que fazer. Discutiam-se todas as hipóteses. As dúvidas eram muitas. A esmagadora maioria apoiava o golpe. O sentimento de impotência era constrangedor. Os fascistas ainda conseguiram usar o quartel para servir de refúgio aos ministros do exército e da defesa. E foi na tarde do dia 25 de Abril, por volta das 3 horas, que assisti à cena mais impressionante e aquela que mais me marcou em todos os eventos que se seguiram: como os ânimos dos militares de Lanceiros 2, principalmente de um ou dois capitães, dos alferes, dos furriéis e praças, já estavam muito exaltados devido ao facto de o comandante não se render, o governo fascista, ainda em funções, decidiu que seria mais seguro retirar os ministros refugiados naquele quartel. Um helicóptero pousou na parada para levar os ministros para outro lado (suponho que iam para Monsanto). Ao mesmo tempo que os dois ministros se dirigiam para o helicóptero, começámos todos a ir ao paiol, arrecadação onde eram guardadas as armas e munições, e, contra todas as regras e sob o protesto do 1º cabo que aí estava de guarda, fomos buscar todo o tipo de armas que encontrámos, principalmente, metralhadoras G3 e pistolas Walter. Éramos mais de 400 homens. Dirigimo-nos para o helicóptero, rodeando-o. Quando o helicóptero levantou voo, ouviu-se um som que eu nunca tinha ouvido antes e que ficou na minha cabeça durante muito tempo: o som de mais de 400 armas a carregar as balas ao mesmo tempo. As armas foram apontadas para o helicóptero. Mas nenhum militar teve a coragem de disparar. Se só um tivesse disparado, seriam centenas de balas a atingir o helicóptero. Entretanto, já nos tinha chegado aos ouvidos que, no Cristo-Rei, se encontrava um ou mais carros de combate com os canhões apontados para o nosso quartel e prontos a disparar, caso não se concretizasse a rendição. Quando o helicóptero se afastou, reparo que, ao meu lado, um furriel chorava como um bebé. A revolta era enorme. A frustração indiscritível. Abracei-me a ele, ao mesmo tempo que, aos soluços, me dizia: “Temos que fazer qualquer coisa. Armas já nós temos.” Foi nessa altura que, acompanhados de um capitão e um alferes, nos dirigimos ao quarto do comandante para o obrigarmos a render-se. A tarefa foi mais fácil do que tínhamos pensado. O “velhote”, logo que viu 4 armas apontadas para ele, telefonou para a porta de armas, dando autorização para abrir as portas do quartel. Não sei o que se passou depois com o comandante, porque só me lembro que, ao ouvir o telefonema, saí a correr para a parada, gritando: “Já se rendeu, já se rendeu!”. A confusão foi grande e só depois de várias peripécias e mais de três horas passadas é que as portas do quartel se abriram. E o cenário foi deslumbrante! Ao som das palmas de centenas de pessoas que se encontravam na Calçada da Ajuda e dos gritos de “O Povo está com o MFA!”, os jipes e outras viaturas da Polícia Militar, iam saindo do quartel. Uns para patrulhar as ruas, outros para o Quartel do Carmo e para outros locais onde eram necessários. A mim calhou-me ir para junto da sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Só sei que passei a noite, no Largo de Camões, quase sempre debaixo de um Unimog, para me proteger dos tiros que, esporadicamente, eram disparados do telhado da sede da PIDE.
Não fui a casa durante quase uma semana. Ia ao quartel, uma vez por dia, tomar um banho e dormir umas (poucas) horitas. Todo o tempo era pouco para andar na rua, no meio da multidão, que nos tratava com um carinho que nunca mais senti. Comida não faltava. O povo trazia-nos tudo, desde sopa a feijoada, embora nós insistíssemos que só queríamos sandes, porque eram mais fáceis de comer em andamento. E, caso curioso, quando agradecíamos, a resposta era quase sempre a mesma: “Nós é que estamos agradecidos”. O primeiro “Dia do Trabalhador” em liberdade (1º de Maio) foi um dia memorável. Nunca tinha visto tanta gente nas ruas. E, mais importante, nunca tinha visto tanta alegria e tanta força popular. A panela de pressão tinha rebentado. O poder era, nitidamente, do povo.
E o resto é história.
Viva a Liberdade! Viva a democracia!
25 de Abril, sempre!

Joseph Fuchs - Violinista americano que começou a aprender violino por receita médica

No dia 26 de Abril de 1899 nasceu, em Nova Iorque, o violinista Joseph Fuchs.


A sua família tinha profundas raízes musicais: o pai, Philip, era violinista amador, a irmã, Lillian, uma brilhante violista e o irmão, Harry, um excelente violoncelista. Quando, aos quatro anos, partiu um braço, o médico sugeriu ao pai que, como terapia, a criança começasse a aprender violino.
Estudou na Juilliard School, onde se graduou em 1918. Em 1926 foi nomeado mestre de concerto da Orquestra de Cleveland, mas abandonou o cargo em 1940, para prosseguir uma carreira a solo. Fuchs fez várias digressões pela Europa, actuando no Festival de Prades em 1953 e 1954.
Também deu concertos na América do Sul, Rússia, Israel e Japão e tocou com todas as principais orquestras dos Estados Unidos. A partir de 1946 foi professor de violino na Juilliard School, em Nova Iorque e actuou no Carnegie Hall até aos 93 anos.
Durante muitos anos deu concertos com o pianista Artur Balsam, com quem fez várias gravações, entre as quais as sonatas para violino e piano, de Beethoven.
Joseph Fuchs morreu em Manhattan, Nova Iorque, no dia 14 de Março de 1997.
Romance nº 2, de Beethoven
Violino: Joseph Fuchs

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Para os jovens do meu país de Abril

Nos últimos dias tenho vindo a verificar que, no Facebook, aparecem algumas mensagens enaltecendo Salazar e Marcelo Caetano.

Preocupam-me estas mensagens, principalmente, quando vêm da parte de jovens que não fazem a mínima ideia do que se passava no tempo daqueles ditadores. E, pior que isso, nem sequer se dão ao trabalho de fazer alguma pesquisa porque, caso o fizessem, rapidamente chegariam à conclusão que não passavam de dois tiranos. Estes jovens nem se apercebem do que eram as torturas da PIDE, do que era pôr uma metralhadora nas mãos de um rapaz de 20 anos e obrigarem-no a ir para uma guerra, obrigarem-no a matar sem, muitas vezes, ele próprio saber porquê e para quê. Não fazem ideia do que era um Tarrafal, do que era ser jovem e ouvir conversas em casa e ser avisado pelos pais que “o que aqui se diz não é para dizer na rua”. Não sabem o que é ter que emigrar, pela calada da noite, arriscando a prisão ou até a morte. Mas a culpa não é destes jovens. Acima de tudo, a culpa é destes políticos que nos têm governado, praticamente desde o 25 de Abril de 74, data em que foi, precisamente, derrubado o sistema fascista que Salazar instaurou em 1933 e que tivemos que aguentar durante mais de 40 anos. Primeiro com Salazar e, depois, com o seu seguidor, Marcelo Caetano. Não interessa a estes políticos ensinar, nas escolas, o que foi o regime fascista. Não lhes interessa ensinar, nas escolas, a razão de ser do 25 de Abril. Não! Isso não lhes interessa nada. É que, quanto menos consciência os jovens tiverem das tiranias do fascismo, mais fácil se torna a implementação das políticas neoliberais, também elas, cada vez mais fascistas.
Nestes últimos três anos, os políticos que nos governam vieram agravar substancialmente o estado das coisas. Desculpando-se com a Troika e com os “mercados”, impõem cada vez mais austeridade ao povo, enquanto a eles, a crise lhes passa ao lado. São eles a principal causa de haver jovens que, mal informados e tendo pouca esperança no futuro, se dão ao desplante de enaltecer o fascismo. O país está pior que nunca, em quase todos os aspectos. Salários a descer, trabalho precário a aumentar, taxa de desemprego preocupante e cada vez mais pessoas a emigrar. Quase metade dos jovens, em idade activa, não consegue arranjar emprego. E a maioria dos que o conseguem, é emprego precário, com salário baixo e numa profissão que não tem nada a ver com o que estudaram. E são alguns destes jovens que não têm pudor nenhum em “recordar” Marcelo Caetano, como o salvador da pátria. Estou em crer que estarão em minoria, mas não deixam de ser perigosos. Inconscientemente, estão a contribuir para a destruição do seu próprio futuro. Nem imaginam que as políticas ultraliberais que estão a ser aplicadas são, na sua essência, as políticas que Salazar e Marcelo aplicariam se regressassem. Mas para pior ainda. Por isso não há interesse, por parte dos governantes, em elucidar os jovens sobre o que foi o fascismo. É que se eles soubessem, depressa chegariam à conclusão de que, a continuarmos assim, nos aproximamos a passos (trocadilho intencional) largos de um sistema ditatorial como aquele que derrubámos há 40 anos. Com uma pequena diferença: os ditadores são os “mercados” e não o Salazar ou o Caetano. Já nos tiraram quase tudo o que conquistámos. Só falta tirarem-nos a palavra. Mas, como se tem visto, tentativas não têm faltado.


Quero, agora, falar directamente para os jovens do meu país:

Não se iludam. O fascismo e a ditadura nunca foram nem serão solução para nada. Se estão insatisfeitos com o sistema que temos (e têm toda a razão para estar), lutem contra ele, tal como eu e muitos outros lutaram contra o fascismo. É certo que, hoje, muitos de nós estão desiludidos, porque não foi por isto que lutámos. Portanto, a luta continua. Mas, uma coisa é certa: FASCISMO, NUNCA MAIS! Lutem por uma democracia a sério. Não se contentem com meias democracias e, muito menos, com ditaduras disfarçadas de democracia. Lutem por uma sociedade justa, em que haja pão para todos, paz e liberdade a sério, educação e saúde tanto para os mais pobres como para os mais ricos. E, se não for pedir muito, lutem por uma sociedade em que deixe de haver pobres. E, quando digo “lutem”, quero dizer “lutemos”. Terão toda a minha solidariedade e apoio. Mas, acreditem, Salazar ou Caetano, não. Fascismo, nunca. Na realidade, o que vocês querem é uma sociedade diferente, com governantes mais honestos, menos corruptos e mais solidários com o povo que os elege. O que vocês querem é, exactamente, o que eu queria quando era jovem: um futuro melhor. Foi por isso que lutei. É por isso que continuo a lutar. Hoje, já não tanto por mim próprio, mas mais pelo meu filho e pelos jovens como ele. Acima de tudo, não desistam. Lembrem-se que, no tempo do Salazar e do Caetano, muita gente morreu para acabar com a ditadura. E cruzar os braços é meio caminho andado para voltarmos a ela.
O vosso futuro é incerto. Mas, quero alertar-vos para o facto de que, no tempo do fascismo, o futuro que esperava os jovens era a guerra colonial. Milhares por lá morreram. O vosso futuro é, talvez, o desemprego ou o trabalho precário. Está nas vossas mãos lutarem contra isso e mudarem o rumo. Mas nunca, nunca chamem o Salazar ou o Caetano, que esses não fazem cá falta. Já os há por aí em demasia, disfarçados com a bandeirinha na lapela. E, hoje, comemorando, hipocritamente, o 25 de Abril, até ostentam um cravo vermelho ao peito.
Força, juventude! Os cotas cá estão para ajudar.

Há um Abril a morrer em Portugal

Roubaram-me Abril. De mansinho e a pouco e pouco foram-me roubando Abril. Aquele Abril que eu e tantos outros ajudámos a construir, a pouco e pouco, até ao dia do cravo na ponta da espingarda. E que dia aquele foi!


Não fora o cravo a entupir o cano, estaríamos agora a celebrar mais um ano de liberdade, de igualdade e de justiça social. Se, há 40 anos, estes valores eram um sonho, hoje não passam de um pesadelo. Porque não sabemos quanto mais tempo vão durar. Não sabemos o futuro. Mas o futuro (ainda) está nas nossas mãos. Desde há alguns anos que nos têm vindo a roubar alguns dos sonhos que, naquela madrugada de Abril, o povo tornou realidade. Tudo por causa do cravo que entupiu o cano da espingarda. Tivéssemos usado uma rosa, sem pétalas mas cheia de espinhos, e tudo teria sido diferente. Lembro-me de ter avisado, na altura.
Aqueles por quem tivemos tolerância hibernaram durante algum tempo. Esconderam-se mas não desapareceram. Nos últimos anos regressaram e são intolerantes. Vieram para destruir a democracia e o estado social. E a liberdade. Sim, a liberdade, porque as pessoas já têm medo de falar contra eles, mesmo sabendo que são maus, porque, se falarem, eles têm mil e uma maneiras de retaliar. E as pessoas sabem que, à primeira oportunidade, eles são implacáveis. Não nos prendem, mas roubam-nos o trabalho, roubam-nos os direitos, roubam as pensões e os ordenados a quem (ainda) os tem. Roubam-nos a liberdade. Não são ditadores, são pior que isso. Sabem ao que vêm e nós sabemos ao que eles vêm. Prendem-nos sem nos encarcerarem, para que, nas próximas eleições possamos votar neles. E nós votamos. Sempre neles. Sempre nos mesmos, há quase quarenta anos. Tal como votámos nos ditadores antes deles, durante mais de quarenta anos.
Quisemos ser heróis e fazer uma revolução sem sangue. O Miguel Portas, que faleceu há dois anos e que sempre foi um defensor dos ideais de Abril, um dia escreveu ou afirmou que “as grandes lutas se fazem com pessoas normais, não com heróis”. E, como sempre, tinha razão. Pessoas normais teriam disparado primeiro e, só depois, entupiriam, com cravos, o cano da espingarda. Armámo-nos em heróis e saímos derrotados. Armámo-nos em povo de brandos costumes e eles vingaram-se. E continuam a vingar-se do bem que lhes fizemos (ou do mal que não lhes fizemos). Agora, querem consensos para tornar a vingança mais democrática. E nós, espantosamente, deixamos!
Há 40 anos o povo saiu à rua. Éramos milhões. Ouviam-se gritos à liberdade e à democracia. Ouviam-se palavras de ordem contra o regime fascista, que dava o último suspiro. Ouviam-se palavras de ordem contra as potências estrangeiras que, quais abutres, pairavam sobre Portugal, prontos a atacar à primeira oportunidade. “Nem NATO nem Pacto de Varsóvia, independência nacional!” - gritavam milhões de pessoas. Quatro décadas depois, é fácil verificar que de independência nacional pouco ou nada nos resta. Os abutres poisaram e estão-nos a devorar. Os nossos governantes são lacaios dos mercados e dos países mais poderosos, que os controlam. Abril está cada vez mais longe.
Mas esta escalada contra as conquistas de Abril (ainda) pode ser interrompida. Assim o povo queira. Assim o povo se decida a lutar, como fez há 40 anos. Eles estão-nos a roubar Abril e, para a semana, é Maio.
E que ninguém se iluda. Os cravos, a serem usados, é na lapela. Para o que falta, usemos rosas sem pétalas e com muitos espinhos.
De aço.

Mário Laginha – Compositor e pianista português *

No dia em que se deu a revolução de 1974, fazia 14 anos um dos mais notáveis músicos da geração de portugueses actuais. Mário Laginha, nasceu a 25 de Abrirl de 1960.


Uma sólida formação clássica – fez o Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional (terminado com a classificação máxima) – deu-lhe ferramentas para evoluir como intérprete e compositor, desenvolvendo uma identidade própria. É isso que lhe tem permitido escrever para formações tão diversas como a Big Band da Rádio de Hamburgo, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Filarmónica de Hanôver, o Remix Ensemble, o Drumming Grupo de Percussão e a Orquestra Nacional do Porto. Compõe também para cinema e teatro.
A sua “casa” é o jazz, mas recusa encerrar-se lá dentro. Na sua música podemos encontrar um pouco de quase tudo, porque não fecha as portas a quase nada. Mário Laginha procura em vários lugares o material para construir o seu próprio universo musical. Muito mais do que misturas, há assimilação. O que se pode ouvir, no final, é... música.
A sua carreira tem sido construída ao lado de outros músicos, de uma forma constante e intensa. E com raras excepções: o primeiro disco a solo, Canções e Fugas, é editado em 2006. Mário Laginha usa com virtuosismo e rigor a técnica clássica para compor seis fugas, cada uma antecedida por uma canção na mesma tonalidade, seguindo o esquema dos prelúdios e fugas de Bach. Não há revivalismos: as suas composições têm uma sonoridade contemporânea, muito inspirada, apesar de notoriamente complexa.
Para Mário Laginha, fazer música é sobretudo um acto de partilha. E tem-no feito com personalidades musicais fortes. O duo privilegiado com a cantora Maria João é um dos casos mais consistentes e originais da actual música portuguesa. Mais uma vez, o jazz funciona aqui como uma rede, mas sem amarras: há ecos africanos, brasileiros, indianos, da música tradicional portuguesa, pop, rock, clássico... A parceria de Mário Laginha e Maria João originou uma dezena de discos e a participação em alguns dos mais importantes festivais de jazz do mundo.
No jazz, tinha um parceiro natural: Bernardo Sassetti. A mesma solidez de formação e um disco gravado em conjunto. Pedro Burmester (com quem também tem um disco gravado) tem sido a sua principal ponte com a música clássica, desde finais dos anos oitenta. Laginha leva a sua bagagem musical para um repertório do século XX, oferecendo-lhe um forte sentido rítmico. Sem improvisações, porque também sabe ser fiel à partitura.

* Texto de António Leal Salvado (http://filofonia.blogspot.pt/)
“A menina e o piano”, por Mário Laginha e Bernardo Sassetti

quinta-feira, 24 de abril de 2014

John Williams – Guitarrista australiano

No dia 24 de Abril de 1941 nasceu em Melbourne, na Austrália, o guitarrista John Williams.


Em 1952, a família mudou-se para a Inglaterra. Williams começou a estudar guitarra com o pai, que era inglês e que, mais tarde, fundou a Escola de Guitarra de Londres. A partir dos 11 anos frequentou cursos de Verão com Andrés Segovia, na Academia Musical Chigiana, em Siena, na Itália. Mais tarde frequentou a Royal College of Music, em Londres, onde estudou piano, porque a escola não tinha um departamento de guitarra. Quando se graduou foi ele próprio que criou esse departamento, que dirigiu durante os primeiros dois anos.
A primeira actuação profissional de John Williams realizou-se no dia 6 de Novembro de 1958, no Wigmore Hall, em Londres. Desde daí, actuou um pouco por todo o mundo e em vários programas de rádio e televisão. Gravou a quase totalidade do repertório para guitarra e álbuns de duetos com os seus colegas guitarristas Julian Bream e Paco Peña. Em 1973, partilhou, com Julian Bream, um Grammy, na categoria de melhor actuação em música de câmara.
Embora seja mais conhecido como guitarrista clássico, John Williams também explorou muitos dos outros géneros musicais. Foi membro do grupo de fusão “Sky”. Também é compositor e arranjador. Em 1979, juntou-se ao guitarrista de rock Pete Townshend, do conjunto inglês “The Who”, num espectáculo de beneficência a favor da Amnistia Internacional e é patrono da Campanha de Solidariedade pela Palestina.
Asturias, de Isaac Albeniz
Guitarra: John Williams

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Albert Coates - Maestro e compositor anglo-russo

No dia 23 de Abril de 1882 nasceu, em S. Petersburgo, na Rússia, o maestro e compositor Albert Coates.


De pai inglês e mãe russa foi o mais novo dos sete filhos do casal. Estudou no Conservatório de Leipzig, trabalhou, durante algum tempo, na Semperoper, em Dresden e foi maestro no Teatro Mariinsky, em S. Petersburgo. Com grande dificuldade, conseguiu fugir da Rússia em Abril de 1919.
Estreou-se na Royal Opera House, Covent Garden, em 1914, dirigindo a ópera Tristão e Isolda, de Wagner. Dinâmico na sua abordagem e com especial sucesso na música russa, deu a conhecer ao público muitas obras novas, incluindo peças de Ralph Vaughan Williams, Arnold Bax e Alexander Scriabin, e, ainda mais digno de nota, dirigiu a primeira apresentação completa da Suite “Os Planetas”, de Gustav Holst.
Nos anos 20 e 30 do séc. XX, Albert Coates trabalhou, frequentemente, com a Orquestra Sinfónica de Londres. Desempenhou um papel importante na inclusão da música orquestral no gramofone, começando, em 1920, com o Poema do Êxtase, de Scriabin, depois, dirigindo vários excertos do Anel dos Nibelungos, de Wagner e, em 1925, a gravação completa da nona sinfonia, de Beethoven. Foi ele o maestro quando Vladimir Horowitz gravou, pela primeira vez, o Concerto nº 3, para piano, de Rachmaninoff.
Em 1925, Albert Coates dirigiu a primeira representação, em palco, fora da Rússia, da ópera “A cidade invisível de Kitezh”, de Rimsky Korsakov. Entre as suas composições encontramos as óperas “Samuel Pepys” e “Pickwick”, um concerto para piano e o poema sinfónico “A Águia”, dedicado à memória do seu antigo professor Artur Nikisch. Em 1946, Albert Coates radicou-se em Milnerton, Cidade do Cabo, na África do Sul, onde morreu no dia 11 de Dezembro de 1953.
Poema sinfónico “Uma noite no Monte Calvo”, de Mussorgsky
Orquestra Sinfónica de Londres
Maestro: Albert Coates

terça-feira, 22 de abril de 2014

Vianna da Mota - Um dos maiores pianistas e compositores portugueses

No dia 22 de Abril de 1868 nasceu, em São Tomé e Príncipe, o pianista e compositor português José Vianna da Mota.


Estudou no Conservatório Nacional, em Lisboa, sendo os estudos patrocinados pelo rei D. Fernando e a Condessa de Edla. Em 1882 parte para Berlim onde, custeado pelos reis mecenas, continua, durante três anos, os estudos de piano e composição. Em 1885 parte para Weimar onde é aluno de Franz Liszt, que, mais tarde, lhe oferece uma fotografia com a dedicatória: "A José Vianna da Mota, saudando os seus futuros sucessos." Dá concertos nos Estados Unidos, Paris, Inglaterra, Espanha, Itália, Dinamarca, Lisboa e Porto, Brasil e Argentina, numa série de recitais que são outros tantos triunfos.
Durante a Primeira Guerra Mundial foi director do Conservatório de Genebra. Em 1917 regressa a Portugal, onde foi director do Conservatório Nacional de Lisboa, de 1918 a 1938. Entre as suas composições mais conhecidas está a sinfonia "À Pátria" e as obras "Evocação dos Lusíadas", "Cenas da Montanha", entre outras. José Vianna da Mota faleceu em 1948, no dia 1 de Junho, em Lisboa, tendo vivido os últimos anos da sua vida na residência de sua filha Inês Vianna da Mota e do seu genro, o psiquiatra Barahona Fernandes.
1º andamento da Sinfonia “À Pátria”, de Vianna da Mota
Orquestra Sinfónica do Estado Húngaro
Maestro: Mátyás Antal

segunda-feira, 21 de abril de 2014

"Nem que sejam cinco cêntimos"


Há dias, bateram-me à porta. Tudo normal, já que, de vez em quando, alguém me bate à porta.

Tudo normal até ao momento em que alguém abriu a porta e se deparou com um mendigo (sim, mendigo) que, com ar triste e envergonhado, pediu ajuda.
- Nem que sejam cinco cêntimos – disse ele.
Cinco cêntimos, disse ele. Cinco cêntimos! Não houve nenhuma espécie de diálogo com ele, porque o seu ar abatido e envergonhado transmitiu a sensação de que não estaria disposto a encetar qualquer conversa. Foi-lhe dado um pouco mais do que ele tinha pedido e ele, agradecendo, continuou para a casa do meu vizinho.
Quando a porta se fechou comecei a pensar no que tinha acabado de acontecer. Aquele pedinte não era igual a alguns que, de vez em quando, aparecem e que nos deixam algumas dúvidas se, realmente, necessitam de andar a pedir. Embora eu ache que ninguém pede pelo mero prazer de pedir, acho que me entendem quando digo que, por vezes, ficam algumas dúvidas.
Mas o mendigo que, há dias, bateu à minha porta era diferente. “Nem que sejam cinco cêntimos” – pediu ele! E aquele pedido chocou-me e tive um momento “Déjà Vu”. De repente, passaram-me pela cabeça muitos episódios da minha vida de criança e juventude, em que, várias vezes por mês, passavam pela minha aldeia muitos mendigos, que iam batendo às portas pedindo comida e algum dinheiro. Alguns vinham várias vezes e já eram conhecidos. Um ou outro aleijado, um ou outro cego, mas todos com um problema comum: a fome. Nunca me hei-de esquecer de um em particular, que, não tendo pernas, se deslocava em cima de uma tábua com rodas, que ia empurrando com as mãos no chão, protegidas por um pedaço de madeira. Já lá vão cinquenta anos ou mais e ainda me lembro da cara do senhor!
Estes mendigos (pobrezinhos, como na altura eram chamados) eram pessoas que aceitavam e agradeciam tudo o que lhes pudessem dar: desde alguns tostões até um prato de caldo, que, sofregamente, comiam, como bem me lembro de ver em casa dos meus pais, que, não sendo ricos e vivendo, eles próprios, com algumas dificuldades, tentavam sempre matar a fome a quem lhes batesse à porta.
Vivíamos em ditadura e havia muita fome.
O senhor que, há dias, bateu à minha porta e pediu “nem que sejam cinco cêntimos” fez-me recordar esses tempos de há cinquenta anos. Mas, pior que isso, trouxe até à minha porta uma realidade que eu sabia que existia e que já tinha observado, mas nunca de tão perto, desde há cinquenta anos.
Vivíamos em ditadura e havia muita fome.
Há dias, li um post no Facebook em que o autor afirmava que, hoje, “o empobrecimento real é perto do zero”! Ou o autor do post vive num país diferente do meu ou sofre de uma doença a que eu chamo “partidarite aguda”, escrevendo tudo o que lhe vem à cabeça para defender as políticas do governo, por mais ridículo, irreal e mentiroso que possa ser. A julgar por outros posts que o mesmo autor escreve, é, para mim, evidente, que a última hipótese é a correcta. Infelizmente, não é o único. Outros há que, vivendo de barriga cheia, continuam a negar que existem cada vez mais pobres. Apoiam, cegamente, a destruição do estado social pelo simples facto de que não precisam dele. Negam o que vêem à sua volta, o que lêem nos jornais ou o que ouvem nas notícias. Afirmam, sem qualquer espécie de pudor ou sensibilidade, que a pobreza, o desemprego e a emigração são apenas danos colaterais de uma austeridade necessária, porque “vivíamos acima das nossas possibilidades”. Dizem que não há alternativa, embora saibam que isso não é verdade. Não passam de papagaios de um governo que, subjugando-se aos “mercados” e fazendo das nossas vidas um inferno, nos promete o paraíso, dizendo, sempre, que é “para o ano”. Mas esse ano é sempre adiado e o inferno continua, cada vez pior. São pessoas a quem a fome nunca bateu à porta, pedindo “nem que sejam cinco cêntimos”, como me aconteceu, há dias.
Mais ou menos na mesma altura em que os capitães de Abril foram proibidos de falar na Assembleia da República! Talvez porque houvesse receio de que falassem no número de pobres, que, nos últimos anos, tem aumentado em Portugal (mais de dois milhões de pessoas vivem no limiar da pobreza). Talvez porque houvesse receio de que falassem do desemprego, que, nos últimos anos, tem aumentado em Portugal (mais de um milhão de desempregados). Talvez porque tivessem receio de que falassem da emigração, que, nos últimos anos, tem aumentado em Portugal (mais de cem mil pessoas emigram, por ano). Talvez porque houvesse receio de que falassem da destruição do estado social, da destruição da escola pública, da destruição do Serviço Nacional de Saúde. Talvez porque houvesse receio de serem desmascarados, ao vivo e a cores, na “Casa da Democracia”, onde a maioria desrespeita, constantemente, a democracia, que, há quarenta anos, conquistámos, com a ajuda dos mesmos Capitães de Abril, que, agora, proíbem de falar.
Há dias, alguém me bateu à porta e pediu “nem que sejam cinco cêntimos”. Era Sexta-feira. Santa. Para alguns.
Vivemos em “democracia” e há muita fome.
Cantata da Paz
Francisco Fanhais

Willi Boskovsky – Violinista e maestro austríaco

No dia 21 de Abril de 1991 morreu em Visp, na Suiça, o violinista e maestro austríaco Willi Boskovsky. Tinha nascido em Viena, na Áustria, no dia 16 de Junho de 1909.


Com nove anos começou a frequentar a Academia de Música de Viena. De 1936 a 1979 foi o maestro principal da Orquestra Filarmónica de Viena e, a partir de 1959, foi o maestro dos concertos de Ano Novo de Viena, normalmente dedicados à música de Johann Strauss e seus contemporâneos. Foi também o maestro principal da Orquestra Johann Strauss de Viena, até à data da morte.
O seu estilo atraiu muitos ouvintes de Strauss. Dirigia a orquestra com o violino, tal como Strauss fazia no séc. XIX, quando dirigia valsas, polkas e outras músicas de dança. Era adepto do estilo de Strauss e as suas interpretações das obras daquele compositor tinham, invariavelmente, um humor subtil, o que conferia enormes vantagens à interpretação destas obras.
“Einzugsmarsch”, da opereta “O Barão Cigano”, de Johann Strauss
Orquestra Filarmónica de Viena
Maestro: Willi Boskovski

domingo, 20 de abril de 2014

John Eliot Gardiner - Um dos mais brilhantes e influentes maestros ingleses

No dia 20 de Abril de 1943 nasceu numa pequena aldeia chamada Fontmell Magna, em Inglaterra, Sir John Eliot Gardiner.


Fundador do Coro Monteverdi, do agrupamento English Baroque Soloists e da Orquestra Revolucionária e Romântica, celebrizou-se pelas suas interpretações de música barroca, em instrumentos da época. É o maestro principal da Orquestra Sinfónica da Rádio do Norte da Alemanha, e aparece frequentemente como maestro convidado com algumas das orquestras mais famosas do mundo, incluindo a Orquestra Filarmonia, a Orquestra Sinfónica de Boston, a Orquestra de Cleveland, a orquestra do Concertgebouw e a Filarmónica de Viena.
John Eliot Gardiner recebeu numerosos prémios internacionais, sendo o artista com o maior número de prémios Gramophone conquistados. Em 1998, foi-lhe atribuído, pela Rainha Isabel II, da Inglaterra, o título de Cavaleiro.
Concerto Brandeburguês nº 2, de Johann Sebastian Bach
The English Baroque Soloists
Maestro: Sir John Eliot Gardiner

sábado, 19 de abril de 2014

Murray Perahia - “O poeta do piano”

No dia 19 de Abril de 1947 nasceu, no Bronx, em Nova Iorque, o pianista americano Murray Perahia, que iniciou os seus estudos de piano aos quatro anos de idade.


Mais tarde, ingressou no Mannes College, graduando-se em direcção de orquestra e composição. Passava os verões em Marlboro, onde colaborou com músicos como Rudolph Serkin, Pablo Casals e os membros do Quarteto Budapeste.
Em 1972 venceu o Concurso Internacional de Piano de Leeds, recebendo numerosos convites para actuar em toda a Europa. No ano seguinte deu o seu primeiro concerto no Festival de Aldeburgh, onde conheceu e iniciou uma estreita colaboração com Benjamin Britten e Peter Pears, acompanhando este último em muitos recitais.
Alguns anos mais tarde, Perahia estabeleceria uma grande amizade com Vladimir Horowitz, cuja perspectiva e personalidade o inspiraram de forma decisiva. Em 1991, no auge da sua carreira, cortou o polegar direito, originando uma grave infecção que o obrigou a interromper a sua carreira durante alguns anos.
Em reconhecimento pelos seus destacados serviços em prol da música, Murray Perahia foi condecorado Cavaleiro Honorário da Ordem do Império Britânico, pela Rainha Isabel, em Março de 2004.
3º andamento da Sonata “Ao Luar”, de Beethoven
Piano: Murray Perahia

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Franz von Suppé – Maestro e compositor croata

No dia 18 de Abril de 1819 nasceu em Split, Dalmácia (Croácia), o compositor Franz von Suppé.


Descendente de belgas e parente afastado de Gaetano Donizetti, “germanizou” o seu nome de nascimento (Franceso Suppé-Demelli) quando em Viena, onde fez o Conservatório, depois de ter tido as primeiras lições de música na Dalmácia e estudado flauta e harmonia em Cremona. Teve que vencer as determinações da família, que o colocou em Pádua para cursar medicina na Universidade – mas a vocação musical falou mais alto e a passagem pelo Conservatório de Viena acabou por tornar-se o decisivo impulso para Suppé se fixar na capital austríaca e triunfar no meio musical. 
Também foi cantor (estreou-se no papel de Dulcamara, no Elixir de Amor, de Donizetti, em 1842), mas conquistou a notoriedade como director de orquestra, cargo que ocupou nos três mais importantes teatros de Viena. Ficou na história pela qualidade das suas composições: além de uma missa e um requiem, 2 óperas e cerca de 30 operetas, entre as quais as que mais se celebrizaram pelas suas aberturas: a Cavalaria Ligeira e O Poeta e o Camponês.
Franz von Suppé morreu em Viena, a 21 de Maio de 1895.
Abertura da ópera “Cavalaria Ligeira”, de Franz von Suppé
Orquestra de Cleveland
Maestro: Franz Welser-Möst

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Artur Schnabel- Pianista e compositor americano, nascido na Áustria

No dia 17 de Abril de 1882 nasceu, em Lipnik, Moravia (na altura, parte da Áustria), o pianista austríaco Artur Schnabel, que é considerado um dos maiores pianistas do séc. XX.


Em 1900, quando tinha 18 anos, fixou-se em Berlim, onde iniciou a carreira de pianista profissional e onde viveu mais de 30 anos. Em 1933, quando o Partido Nazi tomou o poder na Alemanha, partiu para a Inglaterra e deu master classes na Itália. A sua condição de judeu levou-o a mudar-se para os Estados Unidos, em 1939, e a naturalizar-se americano ainda durante a guerra. Com a paz, em 1945, voltou à Europa e deu concertos em diversos países, incluindo a Inglaterra, a Rússia e os E.U.A.
Como compositor, Artur Schnabel escreveu sobretudo música atonal, talvez por influência do seu compatriota austro-americano Arnold Schonberg, de quem foi amigo próximo, mas as suas peças são, além de difíceis e estruturalmente complexas, também marcadas por genuína originalidade de estilo. Mas como pianista – e com a mesma seriedade intelectual e profundidade interpretativa que o distinguiram enquanto professor – construiu um notável repertório de obras de Mozart, Brahms e, acima de tudo, Beethoven e Schubert.
Artur Schnabel morreu em Axenstein, na Suíça, no dia 15 de Agosto de 1951.
1º andamento da Sonata para piano, op. 57 "Appassionata", de Beethoven
Piano: Artur Schnabel

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Margaret Sheridan - “Maggie from Mayo”

No dia 16 de Abril de 1958 morreu a soprano irlandesa Margaret Sheridan, que, nunca tendo cantado no seu país natal, foi uma das principais sopranos dos anos 20 do século passado. Tinha nascido em Castlebar, Condado de Mayo, na Irlanda, no dia 15 de Outubro de 1889.


Infelizmente começou tarde e teve uma carreira curta. Estreou-se em Roma, em 1918, na ópera La Bohème, de Puccini. No ano seguinte, apareceu pela primeira vez no Covent Garden, em Londres. Foi muito bem recebida pelo público e muito elogiada pela crítica. Em 1919 regressou a Itália para se estrear na ópera Madame Butterfly, de Puccini, no dia 30 de Dezembro. Estreou-se no La Scala de Milão no dia 6 de Abril de 1922 e, em 1923, cantou com Beniamino Gigli, em Rimini, na ópera Andrea Chenier, de Umberto Giordano. Foi com esta ópera que Gigli se estreou no Covent Garden, em 1930, novamente ao lado de Margaret Sheridan.

Foi convidada para cantar nos Estados Unidos, mas recusou. Não há dúvidas de que Sheridan foi muito estimada em Itália durante vários anos e que cantou com muitos dos principais tenores dos anos trinta, do séc. XX. Deixou-nos muitas gravações memoráveis, entre elas, duetos com o tenor Aureliano Pertile, de Manon Lescaut, Madame Butterfly e Andrea Chenier.

Ária “Un bel di vedremo", da ópera “Madama Butterfly”, de Puccini
Soprano: Margaret Sheridan
Orquestra do Teatro alla Scala de Milão
Maestro: Carlo Sabajno

terça-feira, 15 de abril de 2014

Neville Marriner - Um dos mais conhecidos maestros da Inglaterra

No dia 15 de Abril de 1924 nasceu, em Lincoln, na Inglaterra, o maestro e violinista Sir Neville Marriner.


Realizou os seus estudos de violino no Royal College of Music e no Conservatório de Paris. Em 1949 ingressou no Martin String Quartet e fundou o Jacobean Ensemble, com o cravista Thurston Dart, e o Virtuoso String Trio. Como violinista, integrou diversas orquestras de Londres e teve, deste modo, oportunidade de trabalhar com nomes lendários da direcção de orquestra como Toscanini, Furtwängler, Cantelli e Karajan, entre outros.
Enquanto membro da Orquestra Sinfónica de Londres, fundou, em 1959, a Academy of St. Martin in the Fields, com a qual trabalhou primeiramente como violinista e, mais tarde, como maestro titular. Pierre Monteux tornou-se seu mentor e Marriner ocupou o seu primeiro cargo como maestro à frente da Orquestra de Câmara de Los Angeles, entre 1969 e 1979. Posteriormente, foi Director Musical da Orquestra de Minnesota até 1986, ano em que assumiu idênticas funções na Orquestra Sinfónica da Rádio de Estugarda.
Neville Marriner foi galardoado, por duas vezes, pela acção que desenvolveu em prol da música: em 1979 foi nomeado ''Comendador da Ordem do Império Britânico'' e em 1985 recebeu o título honorífico de ''Sir''. Mais recentemente, a Academy of St. Martin in the Fields e Neville Marriner foram distinguidos com o Queen's Award for Export Achievement, em reconhecimento pela sua destacada actividade conjunta no domínio dos concertos e das gravações internacionais. Além disso, em 1995, foi-lhe atribuída a Ordem das Artes e Letras, pelo Ministério da Cultura Francês, pela sua grande dedicação à vida cultural francesa.
Especialmente célebre pelas gravações históricas que fez com a Academy of St. Martin in the Fields, Neville Marriner desempenha as funções de Maestro Convidado Principal da Orquestra de Cadaqués desde 1992. Como curiosidade, diga-se que é pai do também famoso clarinetista Andrew Marriner, primeiro clarinete da Orquestra Sinfónica de Londres.
3º andamento da Sinfonia nº 1, de Mahler
Orquesta de Cadaqués
Maestro: Sir Neville Marriner

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Barbara Bonney – Soprano norte-americana

No dia 14 de Abril de 1956 nasceu em Montclair, Nova Jersey, a soprano norte-americana Barbara Bonney.


Começou a estudar piano aos cinco anos de idade, mudando para o violoncelo três anos mais tarde. Todos lhe auguravam uma grande carreira de violoncelista, especialmente depois de aos 13 anos, por ocasião de se ter mudado com a família para o Maine, ter ingressado na Orquestra Sinfónica Juvenil de Portland. Mas 2 anos mais tarde entrou na Universidade de New Hampshire para estudar Música e Alemão e esse foi só um passo para a Áustria. Na Universidade de Salzburgo, onde estudava alemão, trocou o violoncelo pelo canto. Fez o programa vocal do Mozarteum e tornou-se solista de vários grupos corais de Salzburgo. Aí aconteceu o ponto de viragem da sua vida. 
Apresentou-se, como solista, em vários agrupamentos corais e durante quatro anos, participou em quase todas as produções da companhia de Ópera de Darmstadt, interpretando cerca de 40 papéis. Na temporada de 1983-84, colaborou com a Ópera de Frankfurt, seguindo-se uma rápida sucessão de importantes estreias com prestigiados maestros.
Em 1984 Barbara Bonney representou no Festival de Verão de Munique, sob a direcção de Carlos Kleiber, seguindo-se a Royal Opera House, Covent Garden, com Sir Georg Solti. Estreou-se no Scala de Milão, como Pamina, e na Metropolitan Opera, em 1987, sob a direcção de James Levine. Em 1987, apresentou-se, pela primeira vez, na Ópera de Viena.
Barbara Bonney recebeu Doutoramentos Honoris Causa pela Universidade de New Hampshire e pela Royal Academy of Music de Londres e é membro da prestigiada Academia Sueca de Música.
Excerto do Requiem Alemão, de Brahms
Soprano: Barbara Bonney
Orquestra Filarmónica de Berlim
Maestro: Claudio Abbado

domingo, 13 de abril de 2014

Margaret Price – Soprano gaulesa

No dia 13 de Abril de 1941 nasceu, no País de Gales, a soprano Margaret Price.


Oriunda de uma família musical, desde cedo começou a cantar. Aos quinze anos, o seu professor de música organizou uma audição com Charles Kennedy Scott, que a convidou para estudar na Faculdade de Música Trinity, em Londres. Depois de se graduar, trabalhou no Agrupamento Ambrosian Singers.
Price estreou-se, como soprano, na Ópera Nacional Gaulesa, em 1962, no papel de Cherubino, da ópera “As Bodas de Fígaro”, de Mozart. No mesmo ano, foi trabalhar para a Royal Opera House, Covent Garden, em Londres, onde interpretou papéis menores. Quando Teresa Berganza cancelou a sua actuação como Cherubino, Price foi escolhida para a substituir.
O maestro e pianista James Lockhart convenceu-a a ter lições de canto para aperfeiçoar a voz, o que ela fez nas décadas de 1970 e 1980. Margaret Price também foi ajudada por Otto Klemperer, que dirigiu a sua primeira gravação numa ópera completa, interpretando o papel de Fiordiligi, em “Così fan Tutte”, de Mozart.
Price não gostava muito de viajar. Mantinha-se no mesmo sítio durante longos anos, primeiro no Covent Garden, depois em Colónia e, a partir de 1971, na Ópera do Estado da Baviera, em Munique, onde se manteve até 1999, ano em que se retirou dos palcos. Voltou, então, ao País de Gales, onde veio a falecer no dia 28 de Janeiro de 2011, em Cardigan.
Ária "Dove sono", da ópera “As Bodas de Fígaro”, de Mozart
Soprano: Margaret Price
Maestro: Kurt Herbert Adler