sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Um dos cantores de Abril emigrou – Antes de Abril

O Fernando Tordo emigrou, tal como aconteceu com centenas de milhar de outros portugueses nos últimos dois ou três anos.


Como seria de esperar, a emigração de Fernando Tordo chamou mais a atenção do que a do comum dos mortais portugueses. Ou porque o próprio assim o quis ou porque a imprensa achou que podia ganhar mais uns cobres com a notícia, a verdade é que o facto de o Tordo ter ido para o Brasil foi mais mediático do que a emigração dos outros milhares de portugueses. Já tinha acontecido o mesmo com a pianista Maria João Pires. Tudo bem. Como gente conhecida que é, é normal que tenham mais cobertura mediática.
O que me espanta (ou talvez não) é o facto de vir logo uma série de gente a acusá-los de tudo e mais alguma coisa (a maior parte das vezes, sem razão nem fundamento) e, inclusivamente, tentar provar que são pessoas ricas e que não precisam de emigrar.
No caso do Fernando Tordo, a notícia que, ontem, foi publicada no Jornal i é o exemplo de como, muitas vezes, a imprensa tenta manipular a opinião pública. No título do artigo, lia-se “Empresa de Tordo recebeu por espectáculos mais de 200 mil euros por ajuste directo” (http://www.ionline.pt/artigos/portugal/fernando-tordo-recebeu-espectaculos-mais-200-mil-euros-ajuste-directo). Claro que, logo aqui, muita gente pára de ler e fica a pensar as piores coisas do cantor, porque, antes de emigrar, ele dizia que tinha que o fazer porque a sua reforma era pequena (duzentos e poucos euros, como o seu filho, João Tordo, veio a revelar). Mas, logo no 1º parágrafo, pode ler-se que esses 200 mil euros foram adjudicados desde 2008. Ora, 200 mil euros em 6 anos, dá pouco mais de 33 mil euros por ano, o que equivale a menos de 3 mil euros por mês. E o leitor, mesmo assim, continua a ser levado a pensar que 3 mil euros por mês é um bom ordenado, que não justifica a emigração e, muito menos, andar a dizer que tem que emigrar porque tem dificuldades económicas. Só lá mais para o fim do artigo, quando o leitor já está com o cérebro bem lavadinho e o ânimo bem irritado (depois de já ter chamado ao Fernando Tordo todos os nomes e mais alguns e, porventura, ter deixado de ler), é que se constata que, afinal, como explica a mulher de Fernando Tordo, “o cantor deu emprego, nos últimos anos a 26 músicos, “fora técnicos de som e de luz””. E que “por isso, diz Eugénia Passada, o artista recebeu apenas “cerca de 10% do valor” total das adjudicações directas feitas à sua empresa”. Como dizia o outro, “é fazer as contas”.
Tudo isto nos conduz a uma triste conclusão: não só o Fernando Tordo teve razão para emigrar, como também a tinham os 26 músicos e mais não sei quantos técnicos de som e luz a quem a empresa dele dava trabalho.
E, exactamente na altura em que acabo de escrever estas linhas, ouço, nas notícias, que 80% dos reformados (cerca de 2 milhões) vive com 364 euros por mês, mas 56 (banqueiros e antigos administradores de empresas públicas e privadas) ganham mais de 16500. Um deles acumula 13 tipos de pensões diferentes e recebe cerca de 50 mil euros por mês. (http://m.tvi24.iol.pt/economia---economia/reformados-pensoes/1539260-6377.html)
E também me veio à ideia uma entrevista que o Luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD, deu ao JN, em que afirmou que "A vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor"! (http://www.jn.pt/live/Entrevistas/default.aspx?content_id=3697968).
Também me estão a vir à memória as palavras de Henry Kissinger, que cito de memória: “Muita gente vai morrer quando se estabelecer a Nova Ordem Mundial, mas será um mundo muito melhor para os que sobreviverem.”
E mais não digo, para não começar para aqui a GRITAR impropérios que poderiam ferir algumas susceptibilidades.
Até sempre companheiros
Fernando Tordo

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