sexta-feira, 11 de outubro de 2013

“Ser pobre é viver num mundo à parte, de onde nunca se consegue sair”

"Os direitos humanos essenciais são violados, os apoios do Estado são uma fraude, a reinserção social uma ficção. Ser pobre é viver num mundo à parte, de onde nunca se consegue sair"


Aqueles que andam por aí a falar contra as pessoas que recebem o RSI e outros subsídios que, sendo já miseráveis, este governo está a cortar ainda mais e que tentam culpar os mais desfavorecidos pela miséria a que chegámos, deviam ler esta reportagem com atenção (entretanto, o Francisco José Martinho dos Santos morreu no hospital. Tinha 30 anos. Vivia em condições miseráveis com a mulher, de 21, e o filho, de quatro).


Aqueles que, ao apoiar as medidas deste governo, acham justo que os mais pobres é que devem pagar a crise causada pelos mais ricos, devem lembrar-se que subiram na vida com relativa facilidade, mas, se continuarmos com estas políticas de fazer a vontade aos "mercados", a queda que terão vai ser ainda mais fácil e rápida. E, uma vez em baixo, será muito mais complicado voltar a subir. E, nessa altura, quando precisarem do estado social, ele já não existirá, porque eles próprios ajudaram à sua destruição.
São pessoas que, não bastando o facto de não participarem em manifestações, greves e outras formas de luta, ainda criticam, pela negativa, aqueles que o fazem. Nem sequer lhes passa pela cabeça que é também por eles que lutam. Porque, os que lutam, lutam por todos e os que não lutam, só lutam por eles. Dizem que não têm tempo, que não têm jeito, que não vale a pena (boas desculpas para não dar a cara). Se se lembrassem do que se tem passado, por todo o mundo, através da história, seria fácil chegarem à conclusão de que foi devido a estas lutas que eles próprios adquiriram alguns direitos, que se acabou com a escravatura, que as mulheres adquiriram o direito ao voto, que os negros conquistaram o direito de se sentar em qualquer banco do autocarro, que muitas ditaduras foram derrubadas, incluindo a portuguesa, que nos atormentou durante mais de 4 décadas. Foi devido a essas lutas que conquistámos a democracia e muitos direitos, que, agora, estão a ser postos em causa, sempre com a desculpa de que os “mercados” assim o exigem. Depois de alguns anos a perder direitos, a sofrer baixas de ordenados e de pensões, aproxima-se a entrega do orçamento de estado para o próximo ano. E, pelo que já se sabe, aproxima-se mais perda de direitos, mais cortes nos ordenados e nas pensões, enfim… mais miséria. E, levadas pela conversa do governo, que só conseguiu “chegar ao pote”, devido às promessas, nunca cumpridas, que foram feitas durante a campanha eleitoral, essas mesmas pessoas que, constantemente, criticam aqueles que lutam por um país e por um mundo melhor, afirmam que não há alternativa. Desgraçados de nós se, realmente, esta é a única alternativa. Falam de barriga cheia, pois nota-se que, quando se sentem atingidas, até são capazes de dizer umas coisitas contra o governo (nada em demasia, para não dar muito nas vistas). São pessoas que convivem bem com qualquer sistema que lhes ponham à frente. Convém-lhes, porque nunca sabem quando vão precisar dele. Não lhes interessa o vizinho que se vê e deseja para pôr comida na mesa dos filhos, desde que o quintal deles esteja sempre bem tratado. As ideias que defendem são sempre as que vão de encontro à sua própria conveniência. O bem colectivo não lhes interessa nada. Tudo gira à volta do seu próprio umbigo. Mas são os primeiros a aproveitar-se dos direitos que outros conquistaram, sem sequer o reconhecerem.
São parasitas, embora o neguem. Mas nunca o conseguirão esconder.


"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando levaram os católicos, eu não protestei, porque, afinal, eu não era católico. Quando levaram os ciganos, eu não protestei, porque, afinal, eu não era cigano. Quando levaram os homossexuais, eu não protestei, porque, afinal, eu não era homossexual. Quando levaram os negros, eu não protestei, porque, afinal, eu não era negro. Agora, vão-me levar a mim e já não há quem proteste."
(Adaptação de um poema de Martin Niemoller)

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